Entrevista: Educação e Novas Tecnologias – O Futuro das Salas de Aula com Flávio Martins

Esta é uma entrevista que cedi ao portal @itRecruiter, de Portugal, no mês de agosto de 2024. Nesta conversa, abordamos o impacto das novas tecnologias nas salas de aula e como elas estão moldando o futuro da educação. A versão em vídeo por ser encontrada em https://youtu.be/T4QGczVmrkU

Vitor Marques: Flávio, como você iniciou sua trajetória na interseção entre educação e tecnologia?

Flávio Martins: Minha trajetória na educação começou após experiências na área de contabilidade, onde tive meu primeiro contato com o uso de tecnologias para automatizar tarefas. Ao entrar no campo da educação, percebi que, apesar da presença de tecnologias digitais em várias áreas da sociedade, as escolas ainda mantinham um modelo analógico. Desde então, busquei integrar tecnologias ao ensino para explorar maneiras de aprimorar a experiência de aprendizado dos alunos e a prática pedagógica dos professores.

Vitor Marques: Quais foram os desafios que você encontrou ao tentar integrar a tecnologia nas escolas?

Flávio Martins: Enfrentei resistência na adoção de novas ferramentas. O desafio foi demonstrar que a tecnologia poderia ser uma aliada na gestão escolar e no processo de ensino-aprendizagem. Além disso, as limitações técnicas, como o acesso à internet, foram um obstáculo, pois só se popularizou no final dos anos 1990.

Vitor Marques: Quais mudanças você observa nas últimas duas décadas, especialmente com a chegada da internet e de ferramentas como o chatGPT?

Flávio Martins: A internet revolucionou o acesso à informação, tornando-o mais democrático. Desde os anos 2000, as escolas passaram a adotar computadores como recursos pedagógicos. Já atualmente, ferramentas robustas como o chatGPT podem transformar a forma como o conteúdo é ensinado e aprendido, permitindo que os estudantes aprendam de maneira mais autônoma, acessem informações e tirem dúvidas.

Vitor Marques: Como as novas tecnologias podem mudar a dinâmica das salas de aula?

Flávio Martins: As tecnologias possibilitam a personalização do aprendizado, permitindo que alunos avancem em seu próprio ritmo e que professores adaptem suas estratégias pedagógicas. Além disso, expandem o conhecimento além da sala de aula, permitindo que os alunos continuem projetos em casa utilizando recursos online.

Vitor Marques: Qual você acredita que será o próximo passo para a educação com o avanço das tecnologias?

Flávio Martins: O futuro da educação envolve uma integração maior das tecnologias emergentes, como inteligência artificial, realidade aumentada e virtual. Esses recursos podem impactar a apresentação de conteúdos e a interação dos estudantes, mas é fundamental garantir que sejam acessíveis a todos e utilizadas de forma ética, com foco no desenvolvimento integral dos alunos.

Vitor Marques: Como essa transição tecnológica afetou a condução das aulas?

Flávio Martins: Atualmente, é comum o uso de recursos tecnológicos, como slides e vídeos, tornando as aulas mais visuais, multimodais e até mesmo colaborativas. Contudo, é essencial abordar a desigualdade de acesso à tecnologia, que varia conforme a localização e a classe social dos alunos.

Vitor Marques: Você mencionou que as tecnologias digitais foram cruciais durante a pandemia. Quais são as oportunidades e desafios que elas apresentam?

Flávio Martins: As oportunidades são notáveis, pois a tecnologia pode ser aplicada em diversos aspectos do ensino. Entretanto, os desafios são significativos. É crucial que todos, desde gestores até pais, compreendam a importância de garantir que a tecnologia chegue a todos os alunos de maneira equitativa.

Vitor Marques: Poderia nos dar um exemplo do que você observou em Minas Gerais em relação a essa questão de acesso?

Flávio Martins: Apesar de Minas Gerais ser um dos estados mais ricos do Brasil, encontrei famílias sem acesso à internet ou dispositivos eletrônicos a poucos quilômetros de casa durante a pandemia. Essa desigualdade demonstra que, mesmo em áreas desenvolvidas, a tecnologia não chega de forma justa. Em uma pesquisa que realizei, muitos pais relataram que, embora tivessem celulares, a maioria era de qualidade inferior ou que apenas tinham acesso a sites e aplicativos liberados pelo plano de dados que compravam mais barato, assim dificultando o acesso às aulas online.

Vitor Marques: Você também mencionou o conceito de justiça tecnológica. Pode nos explicar melhor?

Flávio Martins: A justiça tecnológica se refere à necessidade de garantir acesso igualitário às tecnologias, reconhecendo a internet como um direito humano. A falta de acesso impacta não apenas a educação, mas também diversos aspectos da vida cotidiana, como o acesso a serviços essenciais.

Vitor Marques: E sobre a Inteligência Artificial (IA)? Como você vê seu papel na educação?

Flávio Martins: A IA pode revolucionar a sala de aula, mas sua implementação deve ser cuidadosa. Pode ser uma ferramenta eficaz para professores e alunos, desde que utilizada para melhorar a prática pedagógica, sempre considerando os riscos éticos e a necessidade de formação adequada.

Vitor Marques: Você acredita que a tecnologia na educação deve ser impulsionada por políticas públicas ou deve surgir das necessidades de professores e alunos?

Flávio Martins: Acredito que deve haver um equilíbrio. A tecnologia pode ser implementada por gestores e políticas públicas, mas também deve emergir das necessidades reais de educadores e alunos. Quando a tecnologia é vista como uma ferramenta útil, seu impacto tende a ser mais significativo. É importante ressaltar que a tecnologia deve ser o meio e não o fim na educação. Isso significa que é preciso aprender a usar as ferramentas, mas é essencial saber usar as ferramentas para aprender outros assuntos, conteúdos e possibilidades.

Vitor Marques: Muito obrigado por suas valiosas contribuições. Esse diálogo é fundamental para entendermos os caminhos da educação na era digital.

 

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