Inteligência Artificial na educação I Chatbots com IA em contextos de Educação Bilíngue: amigos ou inimigos?

Por Kaouê Cavalcanti e Thais Alencar 

Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

Se você acompanha podcasts, telejornais, portais de notícias ou qualquer tipo de mídia, provavelmente se deparou com o nome ChatGPT recentemente. Se isso não lhe soa familiar, a gente explica: trata-se de uma nova ferramenta de inteligência artificial baseada em um grande modelo de linguagem desenvolvido pela empresa OpenAI. Essa ferramenta vem realizando tarefas humanas complexas, como escrever artigos, responder a perguntas abertas, criar soluções de código de baixo nível e até compor letras de músicas. Acredite ou não, a inteligência artificial moderna pode realizar essas tarefas, antes exclusivamente humanas, com muito sucesso e alternando idiomas em um piscar de olhos.

E como um bot on-line é capaz de reproduzir tarefas complexas, tradicionalmente exigentes do nosso raciocínio e julgamento? (Sem mencionar nossa formação em estudos, experiências pessoais e relacionamentos.) Quão intrigante isso pode ser?

Se pensarmos mais abertamente, provavelmente esse foi o mesmo estranhamento que matemáticos experimentaram quando as calculadoras foram inventadas; ou que professores de línguas adicionais tiveram com o advento dos tradutores on-line. Ainda assim, depois de todos esses anos, os educadores ainda estão aqui, ensinando seus estudantes a calcular ou a falar um idioma diferente. Isso deixa claro que a conexão humana ainda faz parte da prática de ensino. Esses dois tipos de ferramentas citadas acima vieram para simplificar as tarefas, mas, ao mesmo tempo, exigem habilidades – algumas novas, outras antigas – para usá-las adequadamente e entender se a resposta corresponde a  determinada situação. Ou, no caso do ChatGPT, analisar, entender e perceber se a resposta é factual ou simplesmente um fantasma na máquina de linguagem.

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Quando se trata de educação, talvez a contribuição mais importante dos chatbots com IA seja mudar a maneira como lidamos com a produção de nossos estudantes. E isso pode ser algo realmente interessante, principalmente no que diz respeito à avaliação. Os professores têm melhorado a maneira como ensinam, apresentando muitas estratégias de metodologias ativas e permitindo o envolvimento na sala de aula como nunca antes. No entanto, ao avaliar esses mesmos estudantes, na verdade não nos afastamos muito das palmatórias e arguições orais de antigamente. Ademais, nossos estudantes são cidadãos do século 21 e estão prestes a realizar tarefas que mal podemos descrever hoje. Quem poderia dizer, na década de 1980, que existiriam muitas das carreiras comuns hoje em dia? Nem mesmo Dr. Brown e McFly (personagens da trilogia De Volta para o Futuro) foram capazes de prever o que estava por vir.

Então, se vamos viver em um mundo onde esses bots não estão apenas disponíveis, mas onipresentes, por que não transformar inimigos em aliados? Aqui seguem alguns exemplos úteis de como tornar nossa vida de educadores mais simples, em especial na hora de planejar nossas aulas:

1. (Re)Ajustar a linguagem dos insumos – Adapte fontes autênticas para o nível apropriado de proficiência e/ou idade para que você possa se comunicar melhor com seu público.

Exemplos de prompts:

  • Reescreva o texto a seguir no nível de proficiência A2 CEFR.
  • Reescreva o texto para simplificar a linguagem.
  • Reescreva o texto para torná-lo mais acessível a crianças.

2. Criar questões de avaliação com ou sem entrada de texto – Crie ferramentas de avaliação que testam exatamente o que você ensinou em sala de aula.

Exemplos de prompts:

  • Forneça 5 perguntas {de compreensão de leitura, vocabulário, etc} para o texto.
  • Remova 10 palavras do texto criando lacunas numeradas e forneça 3 opções para cada lacuna.
  • Forneça 5 perguntas de verdadeiro ou falso sobre {assunto} do 5º ano.

3. Refatorar questões – Melhore as atividades que você usou antes, remodelando-as.

Exemplos de prompts:

  • Reescreva as questões fornecendo as alternativas A,B,C,D.
  • Reescreva as frases com uma lacuna para um exercício de cloze.

4. Mapear palavras-chave para assuntos específicos – Potencialize suas buscas de conteúdo sabendo melhor o que procurar.

Exemplos de prompts:

  • Forneça de 10 a 15 palavras necessárias para lidar com {assunto}.
  • Quais são as palavras-chave para lidar com {assunto} em um nível B2?

5. Brainstorming direcionado a projetos e atividades para uma disciplina – Você não precisa mais começar do zero sozinho.

Exemplos de prompts:

  • Forneça 5 ideias de projetos sobre o sistema solar para crianças de 12 anos.
  • Forneça 5 perguntas sobre o sistema solar para crianças de 12 anos.

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6. Traçar um plano de aula ou projeto – Quando a criatividade foge, pode ser inspirador conferir algumas sugestões.

Exemplos de prompts:

  • Crie um esboço para um projeto em que os estudantes criarão um modelo do sistema solar.
  • Crie um esboço para uma lição sobre o sistema circulatório no nível do 5º ano.

7. Adaptar ao seu horário – Mensurar o tempo para a execução de atividades pode ser uma tarefa bem difícil. Faça com que as ferramentas de IA o ajudem a adequar as tarefas a uma determinada duração.

Exemplos de prompts:

  • Distribua as etapas do esboço do projeto em três lições de 45 minutos.

8. Criar rubricas de avaliação para cada etapa – Ter uma ajuda extra para estabelecer critérios de avaliação com clareza em sua escrita e progressão pode ser bastante útil.

Exemplos de prompts:

  • Forneça rubricas para observar os estudantes durante o trabalho em grupo.
  • Crie rubricas para avaliar o produto final.

9. Transicionar o formato de dados para facilitar seu uso – Ajustar informações de um formato para outro ficou mais simples.

Exemplos de prompts:

  • Formate as rubricas fornecidas como tabela de descontos.
  • Refatore como tabela.

10. Criar documentação de apoio para ser usada ​​durante a aula – O trabalho burocrático pode exigir muita demanda. Por que não melhorar nossa organização e padrões fazendo com que os documentos sejam elaborados por um bot?

Exemplos de prompts:

  • Forneça uma amostra de uma tabela que possa ser usada durante a aula, com espaços para notas e comentários.
  • Resuma os critérios.

Como vimos,  a inteligência artificial pode contribuir de várias maneiras para a nossa práxis. O auxílio complementar pode ser conveniente, economizando tempo e melhorando a qualidade do nosso trabalho. Mas lembre-se de que ninguém conhece melhor nossos estudantes do que nós mesmos. Isso significa que, por mais impressionante que seja o resultado de chatbots modernos como o ChatGPT, eles ainda precisam ser avaliados criticamente para garantir que se adequam ao seu contexto e prática de ensino.

Podemos pensar nesses grandes modelos de linguagem como máquinas de mineração, capazes de extrair e triturar pedaços enormes da crosta terrestre; o que, com certeza, facilita o trabalho. Mas, ao idealizarmos um produto a ser exposto na joalheria, antes será necessário cortar, lapidar, burilar e polir aquelas rochas brutas. Ainda há um longo e laborioso processo a ser percorrido. E se, de modo similar, os chatbots funcionam em tantas tarefas pesadas, vamos fazer deles nossos ajudantes do dia e aproveitá-los ao máximo!

Texto originalmente publicado em Inovação Educacional Be – Bilingual Education

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