O Facebook fez alterações no seu algoritmo, o que significa que as publicações de amigos e familiares agora têm prioridade e mais visibilidade que outros conteúdos. Isso quer dizer que marcas e empresas terão que se adaptar e investir em anúncios pagos para aparecer espontaneamente no seu feed de notícias. Isso parece bom, mas será que é mesmo?
Na prática o que ocorre é que isso também interfere e muito na maneira como os posts serão apresentados a você. Com esse novo algoritmo, o Facebook faz com que a experiência dos usuários seja ainda mais personalizada, focando no conteúdo que é mais relevante e significativo para cada usuário. A forma de lidar com isso agora faz com que o Facebook consiga calcular as publicações que são mais relevantes para cada usuário e assim, vai personalizando seu feed.
Na verdade, o que já está acontecendo é que, por causa dessa personalização pelo algoritmo, algumas publicações nem chegam a aparecer no seu feed de notícias, pois o algoritmo, de acordo com seu padrão de interação com usuários e conteúdos, faz previsões, sobre quais posts você gostaria de ver e os coloca na sua timeline. Isso parece contraditório com o que foi descrito no primeiro parágrafo. Explico.
Esse algoritmo faz um trabalho duplo: primeiro limita nossas postagens à nossa bolha, que são as pessoas que compartilham de nossas crenças e que interagem conosco em nossa timeline. Em segundo lugar, o algoritmo faria com que, ao reduzir o alcance das postagens, pessoas e empresas seriam induzidas a pagar ao Facebook para aumentar o alcance e engajamento de seus conteúdos.
Dito isso, vale refletir sobre o papel da rede social em fomentar financeiramente sua existência e em interferir na interação que temos com as pessoas que seguimos e aceitamos como amigos. Ora, se a rede toma o que posto, controla e direciona isso apenas para quem compartilha dos meus pensamentos expostos ali, então é óbvio que eu acabo só falando para pessoas que têm a mesma visão de mundo que eu. Isso implica dizer que o facebook alimenta e retroalimenta bolhas virtuais formadas por pequenos grupos de pessoas.
Dessa forma, pode-se entender que a rede tem responsabilidade na qualidade das informações que são compartilhadas, pois se meu perfil é de compartilhamento de fake news, por exemplo, estarei alimentando outras pessoas e bolhas similares com o mesmo tipo de conteúdo que consomem e compartilham.
Isso é muito ruim, mas ainda não é o pior. Em tempos de pós-verdades as microbolhas estão cada vez mais viciadas em seu próprio modo de produzir e interagir com a informação. Assim, num grupo qualquer que defenda pensamento político qualquer, haverá pouco ou nenhuma chance de aparecer o pensamento contraditório que permitiria uma discussão com mais de um lado da moeda.
Numa época em que busca-se discutir meios de ampliação de canais democráticos de debate para todas as esferas do pensamento, é bem provável que se você curte, compartilha e comenta posts de determinado grupo de assuntos você receberá uma chuva de conteúdos muito próximos com o que você já sabe, compartilha, gosta e defende.
Para piorar (ou não) a situação, cada um de nós têm acesso a ferramentas de controle de privacidade na rede e as utilizamos para silenciar e evitar que as postagens de quem nos ofende ou pensa de maneira violentamente diferente não apareça no nosso feed. Diariamente bloqueamos, silenciamos, calamos e deixamos de seguir, comentar e compartilhar postagens e pessoas que são contrárias ao nosso pensamento. Claro que justificamos essas atitudes como meios de deixar a rede mais sociável para cada um de nós. Mas o que de fato ocorre é que isso alimenta ainda mais o algoritmo que, assim, delineia ainda mais a bolha que nos cerca.
Uma pergunta que você pode estar se fazendo agora é se esse modelo de organização, influenciado pelas bolhas e pelo olhar financeiro da rede teria interferência nas decisões políticas de seus usuários. A resposta já está dada, atende pelo nome de Cambridge Analytica e as notícias sobre isso não são nada boas.